O dia em que me tornei um admirador do funk carioca


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Opinião de Thiago Borges, jornalista e um dos integrantes do coletivo Periferia em Movimento. "O funk revela muito do nosso momento atual"

“É SOM DE PRETO, DE FAVELADO, MAS QUANDO TOCA NINGUÉM FICA PARADO”.

E, convenhamos, há muitos anos ninguém fica parado quando toca funk carioca – seja nas lajes, nos carros, no meio da rua…
Moro na periferia de São Paulo, capital do rap nacional, não do funk carioca. Confesso que, até alguns anos atrás, alimentei um preconceito burro (como todo preconceito) contra o ritmo que soava das favelas do Rio pras quebradas paulistanas.
Então, passei a entender que, pra quem faz o funk, o ritmo tem importante significado. Me tornei tolerante, até o ponto de cantar quando bebia além da conta e, depois, me render e ir a um pancadão (como a gente chama os bailes de rua aqui em SP).
Mas nesta terça-feira, 28/08, de simpatizante passei a ser um admirador convicto do funk carioca. E essa transformação ocorreu graças ao Raphael Calazans, ou MC Calazans, como ele é conhecido na cena.
“O funk passa por um momento de criminalização, de perseguição”, diz MC Calazans, que foi criado no rap, onde era conhecido como MC AK, e migrou para o funk.
“Eu acordei um dia e vi um tanque de guerra entrando na favela”, recorda. “E vem a Rede Globo dizer que isso aí é a paz chegando no morro”.
Calazans fala mais: a prefeitura do Rio deu poderes à PM para proibir bailes funks na cidade. Antes, a desculpa é que os bailes eram locais de ação de traficantes. Hoje, mesmo em comunidades “pacificadas”, os bailes continuam proibidos.
E não para por aí. A proibição atinge de batizados de criança até bares, que não podem mais transmitir um clássico entre Flamengo e Vasco, por exemplo.
Em seu funk “Polícia Passa + e fica a dor”, Calazans denuncia essa situação. Ouve só:
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Daí, você pode dizer: mas ele é diferente, é “politizado”, não canta baixaria nem faz apologia ao crime como aqueles outros… É mais fácil falar que gosta de um funk assim, que fala das dores de quem vive no morro, fala da realidade.
Mas isso não tira o mérito de funks como “Senta, senta, senta” ou “Que isso novinha?”.
“O funk é putaria? O funk apenas fala de sexo explicitamente”, questiona Calazans, que continua: “Em 60, o cordão da bola preta cantava “Mamãe eu quero mamar” no Carnaval. Nos anos 90, tinha É o Tchan e a cabeça do pimpolho. Na Bíblia, Salomão falava das suas mulheres…”
O funk revela muito do nosso momento atual. A letra pode ser considerada pobre por muitos porque fica em cima de sexo e humor, geralmente. Assim como qualquer outro indivíduo, a molecada do morro também quer se expressar e falar do seu dia a dia, que inclui vida sexual ativa (adolescentes transam!). E, sem saber o que é metáfora, manda o papo reto, sem enrolação. O funk virou meio de comunicação!
Isso também é reflexo da educação de má qualidade e também de um mercado que se criou em torno do funk, que é dominado por Romulo Costa da Furacão 2000 e o Dj Marlboro.
Segundo Calazans, eles exigem contratos de até 10 anos para organizar shows de funkeiros “promissores”. Músicas de contestação como “Polícia passa + e fica a dor” não têm espaço. “Se bunda vende, vende-se bunda!”, diz Calazans, referindo-se a esses empresários. “E outra: o Murilo Benício transa com a Vera Fischer na TV às nove da noite”. 
História
A APA Funk tenta trabalhar a conscientização dos funkeiros em relação aos seus direitos, com rodas de debates e palestras. Isso gerou, por exemplo, a lei que reconhece o funk como cultura em 2009, além de incentivos governamentais de fomento.
Isso porque o funk carioca é só “crime” e “putaria”. Imagine quando a molecada, que faz qualquer vídeo de MC ter 10 milhões de acessos no youtube, tomar consciência de sua situação? Tem pra ninguém.
“O funk já foi divulgado, proibido, absorvido, proibido de novo… só não conseguiram acabar com o funk”, conclui Calazans. “O funk é mais que chegar e fazer um show. É nossa identidade”.

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