Para participar, convidamos o músico Terra Preta, o educador e grafiteiro Mauro Neri e o padre Paolo Parise. Terra Preta canta rap e soul music, já ganhou uma edição do programa Astros (SBT) e participou do Central da Periferia e Som Brasil Vinicius de Moraes (TV Globo). Mauro é um dos grafiteiros mais conhecidos do Brasil e um dos idealizadores do projeto Imargem. E o padre italiano Paolo Parise criou o Evento Pela Paz no Grajaú, o que até hoje lhe rende reconhecimento na cidade e até fora do País. Por essas razões, eles podem ser considerados alguns dos ícones da região.
Quando a mediadora Sueli Carneiro perguntou se o que cada um faz é seu projeto de vida, Mauro disse que mais que isso faz parte de sua história. Ele nasceu no Grajaú, teve uma infância semelhantes à das demais crianças e o que o diferencia é que ele teve oportunidade pra mostrar seu valor. “Acho que meu percurso se diferenciou um pouco porque tive acesso a outros lugares. Sair, ver outras coisas, ver gente que teve mais privilégio, me deu parâmetros para saber que poderíamos ter as coisas mais fáceis aqui”, diz. “Sinto que tenho grande poder mas também grande responsabilidade. Existe um compromisso com sua história, sua origem. Não daria pra ser diferente”.
Terra Preta, que começou cantando em coral gospel da igreja, se define como “viciado em música”. “Quando me mudei pro Grajaú, minha família perdeu os vínculos da religião e eu comecei a escutar música do mundo”, relembra. Foi aí que conheceu o rap e as mensagens que eram passadas nesse estilo musical. Terra Preta, então com 15 anos, começou a criar suas próprias letras. E isso o salvou, segundo ele mesmo conta. “Eu brinquei de roleta russa na escola e a bala passou perto da barriga de um amigo. Meu lado violento foi até pacificado por causa da música”.
E Paolo aponta que o que o faz crescer é ver “os jovens crescendo no Evento”. Na semana passada, representantes da Organização das Nações Unidas citaram a possibilidade de levar o caso do Evento Pela Paz para um encontro internacional em 2011. “É interessante ver como se coloca ao lado de outras experiências internacionais, apesar de o Evento ser uma experiência que não mudou o mundo todo”, observa.
Lá fora
Mauro ressalta que a receptividade à cultura periferia está maior “lá no centro”. “Traz um carisma o fato de ser da periferia”, diz. “É um fenômeno recente e tá ganhando força saber o que tá acontecendo nas extremidades”. E o que está mudando também é a visão que se tem dessa cultura, segundo ele. O público não curte só porque “conseguiu chegar lá”, mas porque é bom em sua essência, tem qualidade.
Para Terra Preta, que já foi desestimulado a seguir carreira várias vezes, os tropeços também ajudam. “Isso serve também pra mostrar a força do nosso potencial. Se for fácil, vai acabar fácil. Tem que ser árduo pra gente sentir a conquista“, abaliza. Ao término do debate, ele cantou duas músicas de seu repertório.
Periferia em Movimento