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Editorial: As periferias, do discurso à prática – Periferia em Movimento

Editorial: As periferias, do discurso à prática

Das linhas do tempo do Facebook à conversa no busão, a surpresa é geral: ninguém esperava que João Doria Jr., descendente direto de senhores de engenho, vencesse as eleições municipais logo no primeiro turno em São Paulo. Provavelmente, nem ele mesmo botava fé que fosse tão fácil…

Tem gente lamentando o que seria o avanço da “direita” na cidade, tem gente comemorando mais uma “derrota” para a “esquerda. E, como era de se esperar, muita gente dita “esclarecida” culpando o povo por votar “errado”. Como assim as periferias não sabem votar?

Passada a ressaca da festa da democracia, que comparecemos obrigados mas que os organizadores gostariam que nem estivéssemos lá, vamos à real: Dória venceu em 56 das 58 zonas eleitorais de São Paulo. Perdeu apenas no Grajaú e em Parelheiros, onde Marta ganhou.

Se ele ganhou em todos esses pontos, a pergunta a fazer é: qual valor as pessoas enxergaram em sua candidatura e não em outras? Pode ser a boa embalagem da campanha, a falta de identificação nas propostas dos demais candidatos ou a adesão ao discurso do “não sou político”, como ele pregou nessas semanas. Ou tudo isso junto, afinal o cara é “trabalhador” e construiu tudo que tem com seu suor – e a meritocracia é papo comum entre os nossos, afinal sempre tivemos que nos esforçar pra sobreviver. O foda é que Dória se “esqueceu” de dizer que não saiu de baixo, em “desigualdade” de oportunidades, como nós.

Dória promete exames médicos na madrugada, mas ninguém o avisou que a gente já madruga pra colar no posto de saúde? Também promete privatizar tudo que é possível, inclusive corredores de ônibus, mas qual é o ganho que teremos com isso? Pior ainda, a já brutal Guarda Civil Metropolitana (GCM) vai trabalhar lado a lado da assassina Polícia Militar, chefiada pelo seu padrinho político Geraldo Alckmin.

Por outro lado, quem de fato ficou em primeiro lugar nessa votação foi “ninguém”: enquanto Doria teve 3.085.187 votos, o número de pessoas que votaram em branco, anularam ou sequer compareceram à urna eletrônica foi de 3.096.304. Quase 40% do eleitorado de São Paulo mandou um foda-se a esse sistema eleitoral. Protesto? Desinteresse? Desilusão? Falta de representatividade? Falta de tempo para colar na seção? Tudo junto e misturado? Ainda é cedo pra saber.

Em uma eleição em que as periferias não saíram da boca dos candidatos – foi a dama mais cortejada da cidade, como lembrou Douglas Belchior –, dois terços da população votaram em “ninguém” ou no candidato “não político”. O que isso indica?

Resta saber: as periferias vão sair do discurso e se tornar prioridade real do novo “gestor”? E o que cabe a nós, aqui nas quebradas, teoricamente lutando pela garantia de direitos? Essa é nossa prioridade também? O quanto nossa atuação se conecta de fato com as reais demandas desses dois terços da população, que escolheram caminhos alternativos à política partidária tradicional?

Por isso, retomamos o que escrevemos no final de agosto, após mais um golpe cotidiano que naquela ocasião derrubou a presidenta Dilma Rousseff: nossa luta não é de agora e nem cabe nas urnas e a democracia real deve ser construída diariamente, olho no olho, no sapatinho e tijolo a tijolo.

Sem passar pano pra partidos ou politiqueiros de plantão, muito menos coronéis da mente que querem ditar o que devemos pensar ou como agir, quaisquer que sejam eles, vamos seguir juntos nas ruas e vielas com todas as nossas limitações e contradições, ao lado de quem sempre resistiu e vai continuar resistindo e construindo aqui nas margens – pelo básico, pelo direito à identidade, contra o genocídio e o patriarcado. Não negociamos nossas vidas.

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