No dia 14 de outubro, iniciamos o módulo de Cultura no Programa Escola Livre. Falamos sobre cultura erudita e popular e, a partir dessa conversa, conheceremos a cultura que está no centro e em nossa região.
Para as reuniões na comunidade, o grupo conseguiu autorização da Prefeitura para fechar a Rua 27 nos dias de domingos e feriados, como rua de lazer.
As mensagens que suas letras carregam, são temas do cotidiano, da periferia, seja de uma vizinha fofoqueira, ou de um garoto que tem um sonho. O grupo já teve oportunidade de se apresentar em diversas cidades, devido ao destaque que vem adquirindo.
Para quem vai a suas apresentações, eles pedem a colaboração de apenas um quilo de alimento não perecível, para darem continuidade a ação social no qual representam.
Nasceram na mesma época que o fundo de quintal, que passou a ser uma influência, dentre Beth Carvalho e Zeca Pagodinho…
Não imaginavam tamanho sucesso, até mesmo no exterior, mas se sentem gratificados por saberem que a música tem esse poder de atingir tantas pessoas, até mesmo o jogador Luisão que hoje joga no Portugal. Um dos integrantes afirma que não sabe ao certo como chegou aos ouvidos do jogador, mas, através da música, ganharam uma amizade e mais uma participação em suas rodas de samba.
Começamos a conversar com o Jeferson Santiago (32) e Ronaldo Brasil (30), ambos sem formação acadêmica. Jeferson é integrante do grupo desde o inicio e Ronaldo passou a ser integrante há 3 anos.
Thaísa Nascimento: Como Surgiu a inciativa do “Pagode da 27”?
Jeferson Santiago: Não existiu uma iniciativa, sempre fizemos roda de samba, aqui no Grajaú e devido a essas rodas, percebemos que poderíamos montar um projeto pra trazer benefícios para a comunidade.
T.N: Temos um exemplo de sucesso na região que é o Criolo, e logicamente o pagode da 27. O que representou para vocês se apresentarem em uma das maiores emissoras brasileira de TV, a globo, no programa esquenta da Regina Casé?
J.S: Na verdade Criolo é amigo particular meu, devido termos crescido juntos.
E foi batendo um papo sobre música, ele no Hip-Hop e eu no samba, conversando sobre a correria do dia-a-dia eu o chamei ele pra visitar o projeto e participar, e ele se apaixonou e percebeu que aqui é um movimento cultural e social, e de lá pra cá, houve uma parceria muito bacana. E na questão de se apresentar para o programa da Regina Casé, na Globo. Isso foi uma coisa que nem pensávamos e nem tínhamos a pretensão, mas foi algo super natural.
T.N: Em meio a tantas conquistas, vocês têm outros objetivos a serem alcançados?
J.S: Sempre tem objetivo, sempre temos. Como já te disse, não tínhamos a “pretensão” nem de gravar um disco e hoje já temos 2, já recebemos convite para gravar DVD e acho que o objetivo maior hoje é atingirmos o maior números de pessoas com nossas músicas e passar a mensagem que há em nossas letras.
T.N: Como a comunidade recebe o pagode da 27? Enxergam como uma cultura popular? Respeitam e participam?
J. N: Sim, e nisso temos que agradecer. Demorou um pouco para que as pessoas pudessem perceber que é um beneficio para a comunidade. Porque às vezes você não precisa sair da região do Grajaú para poder curtir algo de qualidade, pois aqui vêm até crianças, idosos e é um ambiente bem familiar e hoje a galera está com a consciência de que é um projeto social e respeita e pensa: “vou lá realmente para curtir, pra escutar alguma coisa e para agregar em mim”.
Lealdade e respeito
Para permanecerem unidos, os integrantes valorizam a lealdade e o respeito, pois acreditam que trabalhar em grupo é isso. E para continuarmos com nossa entrevista, chegou mais um integrante, que é Ricardo Rabelo (39) . Músico e compositor do pagode da 27, um dos fundadores.
A gravação de um CD foi basicamente à realização de um sonho, e as musicas que entraram é de autoria de pessoas da região. E segundo Ricardo, é uma realização para o compositor, e para a “quebrada”, e também como se fosse um cartão de visita.
Além de abordarem o cotidiano em suas músicas, ainda passam uma mensagem positiva por que se não há essa mensagem, automaticamente, o próprio povo rejeita, pois são carentes de informação, carentes de cultura e então de certa forma, se não há mensagens legais, o povo já deixa de lado.
Quando alguns compositores têm a vontade de apresentar seus trabalhos antes da roda de samba, eles trabalham com esses compositores para uma avaliação e até mesmo para um crescimento profissional do interessado.
Durante o bate papo, os demais jovens do Programa Escola livre também interagiram com algumas perguntas.
Ricardo nos conta que eles já cantaram para o Caetano Veloso em sua casa. Acrescentou que Caetano os elogiaram, pois é para ele uma das melhores músicas que homenageiam São Paulo, a música é a “Pauliceia minha vida”.
Na festa de 8 anos, foram contemplados com 3 mil pessoas e conseguiram arrecadar em média 1 tonelada de alimentos, que foi destinada a uma aldeia indígena que esta localizada em Parelheiros.
Se sentem realizados como músicos, pelo progresso que já tiveram tendo a certeza de que a música vai muito mais além do que eles possam imaginar.
Simplesmente passam para a periferia o que aprenderam da periferia, um reflexo do que a comunidade produz e também do que ela ofereceu de apoio, e a presença dessas 3 mil pessoas foi muito significativo e mostra que eles são representados.
Rabelo nos acrescentou que são nada mais que agentes multiplicadores, aprenderam muito na periferia, e sente na obrigação de repassar suas bagagens. Até mesmo as coisas ruins, que nos fazem refletir para qual caminho a seguir.
Como prova de que a cultura pode partir da periferia, o grupo sempre é convidado para se apresentar em diversos espaços da cidade, como o SESC, livrarias Senac e FNAC e outros.Mas, ainda encontram preconceito, pois existem pessoas que deixam de ir ao Samba por se localizar em uma rua da periferia. Há o preconceito ou talvez o medo…
Entrevistas: Thaisa Nascimento e Adriano Santos
Filmagens: Israel Dantas e Valdeane Lima
Fotos: Israel Dantas, Elisângela Duarte.