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domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114mfn-opts
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114Reportagem de Laís Diogo e Thiago Borges
Na semana santa, o jovem F. largou a quarentena e foi pedalar com amigos em uma praça do Grajaú, no Extremo Sul de São Paulo. Naquela noite, eles tomavam açaí enquanto outras pessoas bebiam e alguns meninos davam grau de bike. Até que a Polícia Militar chegou atacando com bombas de gás lacrimogêneo.
“Eu reconheci 02 policiais que são muito violentos quando vão abordar alguém”, diz F., que teve a identidade preservada pela reportagem para garantir sua segurança.
Segundo ele, a PM dispersou os jovens, mas fechou a rua que seria utilizada como rota de saída da praça. “Eu fiquei com muito medo. Se eles queriam que a gente fosse embora, por que fecharam todas as nossas saídas pra ir pra casa? Eles queriam amedrontar mesmo o pessoal que tava lá”, continua.
O acontecimento ocorreu na mesma semana em que o governador João Doria disse que acionaria a PM para apoiar no cumprimento das medidas de distanciamento social com objetivo de conter o avanço do coronavírus no Estado de São Paulo. No dia 13/04, Doria voltou atrás, dizendo que medidas repressivas seriam utilizadas como último recurso. Aos policiais, caberia primeiramente advertir verbalmente quem descumprisse a quarentena e, somente em último caso, prender as pessoas fora de casa sem motivo essencial. Mas a simples possibilidade disso acontecer já acendeu um alerta entre quem sofre e denuncia a violência policial nas periferias.
“Nunca houve diálogo da polícia na quebrada. Aliás, o próprio João Doria disse em sua campanha para governador que a polícia iria atirar para matar – e a gente sabe que quem morre é preto e pobre na quebrada”, questiona Will Ferreira, educador social do Projeto RUAS e morador de Parelheiros, também no Extremo Sul de São Paulo.
Para ele, assim como a guerra às drogas é uma justificativa utilizada para a violência e o extermínio da população nas periferias, o combate à pandemia também pode legitimar ações arbitrárias da polícia contra pessoas negras.
“Assim como o coronavírus, nós somos tratados como um problema a ser combatido (…) Temos aqui um enfrentamento a uma pandemia que se torna parte da estratégia política do genocídio da população preta, pobre e periférica”
Will Ferreira
A advogada e feminista abolicionista negra Dina Alves observa que essa distribuição desigual da morte é pensada e calculada.
“Se, de um lado, o governo se utiliza da força bélica para promover a sua política de isolamento e distanciamento social, causando ainda mais terror na periferia, é esta mesma população vítima histórica da violência policial que sente o aprofundamento destas violências: além de ser exposta ao vírus letal pelo estado, ela também morre pelas mãos da polícia”
Dina Alves, coordenadora no Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) e integrante do coletivo Adelinas.
Dina indica ainda que, enquanto ameaça prender a população, quem já está preso é ainda mais prejudicado em meio à pandemia. Com mais de 710 mil detentos, sendo que 3 a cada 10 sequer foram julgados, o Brasil restringe o acesso às prisões e demora a cumprir resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que orienta a soltura de presos provisórios do grupo de risco e que não representam risco social. “As prisões sofrem com o superencarceramento, a superlotação, a precarização da saúde e a proliferação de doenças como tuberculose e pneumonia”, nota Dina.
Tanto Will quanto Dina observam que isso compõe o modelo de necropolítica implantado pelo Estado, isto é, a política que pensa e articula a morte a partir das relações de racialização.
“O governo, ao invés de fortalecer o estado de bem-estar social e garantir maior proteção ao povo periférico, socorreu as empresas aéreas e bancos com a transferência de renda em valores bilionários em meio à crise econômica e social”, nota Dina.
Por ora, o caminho é manter-se atento às medidas governamentais e agir coletivamente contra novas violações de direitos. “Nosso olhar tem que ser ainda mais apurado para perceber qual é o tipo de abordagem quando uma viatura encosta”, finaliza Will.