#Matriarcas: Mulheres que cavaram os alicerces para a luta nas quebradas

Adélia Prates é uma mulher que, mesmo diante de todas as injustiças, encontra forças para lutar.

E essa liderança histórica do Grajaú, no Extremo Sul de São Paulo, é a primeira entrevistada de “Matriarcas”.

Idealizada pela escritora e professora da região Lucimeire Juventino e realizada pela Periferia em Movimento, nessa série de reportagens contamos histórias de mulheres que cavaram os alicerces de lutas por direitos que continuam fortes até os dias de hoje.

Confira abaixo a entrevista com Adélia:

Nascida no interior de São Paulo e com parte da infância vivida na Bahia, ela trabalha desde os 07 anos de idade. Sofreu com o racismo, o machismo e a pobreza desde cedo. Considerada “endemoniada” na época, hoje ela entende que o adjetivo foi dado porque nunca se conformou com a situação em que vivia.

Aprendeu a ler e escrever com mais de 20 anos de idade, já vivendo em São Paulo. Aqui, após se casar oficialmente, se mudou com o marido para um terreno no Grajaú.

Anos 1970, periferia de São Paulo, tudo mato! Sem luz, água, asfalto e até o pão francês de qualidade, Adélia se juntou a outras mulheres para lutar pelos mesmos direitos de quem vivia na região central – isso, em plena ditadura militar. Quando viu que o poder estava com as mulheres, não teve dúvidas: “A gente tinha que mudar as coisas, nem que fosse só no Grajaú”, conta.

Fechou ruas contra atropelamento de crianças, ocupou escola por melhores condições de ensino, travou açougues contra o preço absurdo da carne! Mobilizou a mulherada para fazer mutirão por moradia, urbanizar favelas e falar do direito ao próprio corpo. Se articulou com o poder público para construir políticas públicas.

Ato do Dia da Mulher no Grajaú, em 2016, com a Associação de Mulheres do Grajaú. Foto: Adriano Mendes

Uma das fundadoras e primeira presidenta da Associação de Mulheres do Grajaú, aberta oficialmente em 1982, Adélia sofreu um baque no ano seguinte com o feminicídio de sua irmã Delvita pelo então companheiro. Delvita deixou um filho de cinco anos e estava grávida de quatro meses quando foi assassinada.

Adélia apontou a responsabilidade das autoridades diante do então secretário da Segurança Pública, Michel Temer, acompanhou as investigações até a captura do criminoso – que ficou apenas 04 meses preso – e não esmoreceu mesmo diante da soltura.

Para Adélia, é necessário que as mulheres se mobilizem para que direitos conquistados não sejam retirados.

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