Por Aline Rodrigues
Após 3 anos de luta, inúmeros protestos, ônibus populares tarifa zero viabilizados por rifas e bingos e a interrupção da aula do prefeito Haddad na USP, agora quem mora nos bairros de Marsilac, Barragem, Bosque do Sol e Jusa, no Extremo Sul da capital, pode sentir o resultado de sua mobilização para resolver o problema grave de mobilidade que vivem.
A reunião que tiveram neste sábado (23), na subprefeitura de Parelheiros, foi para por fim aos desencontros de discursos e promessas até então não cumpridas de melhoria no transporte da região.
Estavam presentes, além do prefeito Fernando Haddad, os secretários do Verde e do Meio Ambiente e de Transporte, representantes da SPTrans, da Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos, de moradores dos bairros que reivindicam as linhas de ônibus e integrantes do coletivo Luta pelo Transporte no Extremo Sul.
Foram mais de duas horas de conversa, mas o resultado foi animador e o prefeito reconheceu que aprendeu muito com os moradores e que a conquista veio com a pressão feita pela população. “Eu sai satisfeito da reunião e aprendi muito com vocês [os moradores]. Eu fiz questão de vir aqui, porque vindo a gente fica sabendo de toda a verdade, todo o drama que é e você sensibiliza mais a equipe”, reconhece Haddad.
Reunião com o prefeito Haddad e os secretários foi resultado de pressão popular. (Foto: Divulgação / Luta do Transporte no Extremo Sul)
Reinvidicações atendidas
Para cada realidade dos bairros foi dado um encaminhamento. São eles:
– Implantação imediata de uma linha regular de transporte urbano no bairro do Bosque do Sol até o Varginha, com atendimento na Estrada do Jusa.
– Criação de uma linha de ônibus rural no itinerário Mambu – Marsilac, com tarifa zero para os moradores e caráter experimental por 180 dias, após aprovação da Cetesb.
– Estudo para a criação de duas linhas circulares na região da Barragem com o mesmo formato: rural, experimental e gratuito aos moradores. Em encontro marcado para 28 de maio, entre prefeitura, SPTrans, moradores e Cetesb, será definida a melhor forma de implantação dessas linhas.
– Melhoria de todas as vias e construção de uma nova ponte sobre o Rio Mambu. A ponte atual já passou por inúmeras reformas, mas que não garantiram até hoje uma travessia segura.
O prefeito assumiu um compromisso com a população. “Eu vim nessa primeira reunião, mas estou envolvido até o fim desse processo. Se tivermos obstáculos que não são da prefeitura eu vou trazer para vocês [os moradores] acompanharem”, garantiu Haddad.
Luta até o fim
“Nós já tivemos outras reuniões com SPTrans e até o prefeito de Embu Guaçu, e prometeram uma linha que era pra começar em dezembro de 2013, então até hoje são só promessas e eu pago meus impostos, meu IPTU é mil reais e trouxe até pra mostrar para o prefeito”, alertou Maria José, antes da reunião, temendo que a situação se repetisse. Ela caminha 25 minutos a pé todos os dias e depois enfrenta de 2 a 3 horas de ônibus lotado até a Avenida Washington Luis, onde trabalha.
Enquanto aguardava a chegada do prefeito para a conversa, Maria José protestava junto com um grupo de moradores em frente à subprefeitura e lembravam a trajetória de luta até ali.
Luis Vieira, que há mais de 15 anos mora no bairro de Ponte Seca, em Marsilac, chegou cedo para a reunião e conta que dessa vez precisava sair da subprefeitura com uma solução, pois ele é um dos moradores que está desde 2013 nesta luta e para trabalhar e fazer sua faculdade de enfermagem precisou investir em uma moto.
“Minha expectativa é sair daqui com a informação de implantação da linha”, conta Luis enquanto aguardava. Segundo o morador, só em dezembro de 2014, em seu bairro com cerca de 1.800 habitantes, teve uma média de 35 jovens formados no ensino médio que, como ele, querem continuar estudando e começar a trabalhar.
Hoje, os jovens até conseguem emprego, mas não mantém pela dificuldade de locomoção.
Renata da Silva Jesus Bispo, também moradora da Ponte Seca, fala sobre o significado dessa conquista. “Agora, acho que até junho estamos com a nossa linha rodando com caráter rural, tarifa zero. Eu falei para ele [Haddad] que eu parei na sexta série e não terminei o estudo porque não tem transporte. Nem tenho como passear com meus filhos. Eu me sinto trancada no meu bairro”.
Ela, que também é conselheira da UBS da região, conta que vai mudar muito a rotina do serviço de saúde, porque “as pessoas vão conseguir passar na consulta, fazer seus exames”. Além disso, “o transporte faz ligação com a escola, com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), com o mercado”.
E deixa um alerta para o prefeito: “Ele sabe que, se não cumprir a gente volta na USP, se for preciso a gente acampa lá dentro, volta a fechar a rua”.
Bem antes da reunião com Haddad
Nos dias 13, 14 e 15 de maio, os moradores junto com o Coletivo de Luta pelo Transporte no Extremo Sul promoveram três dias com ônibus popular tarifa zero para provar a viabilidade do transporte nas regiões. Veja reportagem publicada no Periferia em Movimento
aqui.
Antes disso, para cobrar uma resposta do prefeito, interromperam sua aula na USP no dia 27 de abril. Veja
aqui.
E no próprio dia 23 de maio, os manifestantes se encontraram em frente ao Cemitério Parque dos Girassóis para juntos caminharem um quilômetro até a Subprefeitura de Parelheiros. Enquanto esperavam Haddad e depois o resultado da reunião com a comissão, ficaram na entrada protestando e falando de sua luta para todos que passavam na Avenida Sadamu Inoue.
Periferia em Movimento