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No Grajaú: “Pau Nu Ku” contra o patriarcalismo – Periferia em Movimento
Foto: Thiago Borges / Periferia em Movimento

Nossa Senhora da Buceta, gozai por nós! - Foto: Thiago Borges / Periferia em Movimento

Nem de esquerda nem de direita. Republicana vagina. Do patrão ao trabalhador, todos os filhos de Deus passaram por ela: a santíssima prexeca Nossa Senhora da Buceta.
E, por isso mesmo, foi elevada ao altar sagrado do teatro pelo Núcleo Divinas Tetas, formado por integrantes de três companhias do Grajaú – Humbalada, Ruídos e Enchendo Laje & Soltando Pipa.
A cena com as irmãs “bucetinas” interpretando um canto gregoriano é uma das muitas chacoalhadas que o público recebe em “Pau Nu Ku”, espetáculo que mistura banda e teatro para questionar o machismo, racismo e classismo vigentes em nossa sociedade patriarcal.
“Surgiu de forma bastante despretensiosa, numa conversa de bar sobre fazer algo a respeito de assuntos que as pessoas não querem falar”, explica Cristiane Rosa, integrante do grupo.
“Ultimamente tudo é muito chato no teatro, muito cabeção, tudo com a proposta de jorrar um discurso, e a gente queria experimentar essa estética”, completa Bruno César. “Mas não tem como falar de ruptura e transgressão sem falar de sexo”.
Baseado em poemas de Augusto dos Anjos, Allen Ginsberg e Marcelino Freire, o núcleo desenvolveu músicas e cenas que tratam da objetificação do corpo – principalmente o da mulher negra –, homossexualidade, religião e as relações entre o sexo e quem exerce o poder político.
“Michel Foucault fala que tudo que é segredo social se torna uma relação de poder”, explica Bruno.
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Mas nem sempre é fácil trazer isso para a cena, que inclui um discurso de Geraldo Alckmin com um filme pornô de fundo e “panicats” dançando enquanto o público nomeia quem gostaria de “ver sentando no pau”.
“Mesmo nesse mundo em que vivo, mesmo sendo lésbica, é difícil encarar porque cresci numa família católica com uma ideia de que tudo do corpo é pecado”, conta Fernanda Nunes, que rompeu seus próprios tabus e interpreta uma cena de masturbação no palco.
“A sexualidade é algo muito individual e nós tratamos disso de uma forma coletiva”, completa Cristiane.
Tratar de temas complexos e polêmicos em territórios periféricos parece ainda mais complicado, porém ao apresentá-los de forma cômica o grupo consegue alguns feitos e nem todo mundo volta pra casa ruborizado.
“No Capão Redondo, fizemos uma apresentação para uma turma do EJA [Educação de Jovens e Adultos] com mais de 80 pessoas, incluindo senhorinhas, porque ficamos com receio de tirar a roupa na frente delas. Mas houve uma relação muito forte entre a gente”, observa Carlos Lourenço.
Graças à Nossa Senhora da Buceta, tem mais “Pau Nu Ku” neste sábado, como parte da programação do festival Periferia Trans. Confira abaixo.
 
Anotaí!
Pau Nu Ku
Quando? Sábado, 21 de março, às 21h
Onde? Galpão Cultural Humbalada – Av. Grande São Paulo, 282 – próximo ao Terminal Grajaú – Extremo Sul de São Paulo
Mais informações aqui
 
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