Eles vieram em busca de uma vida melhor. Chegaram aqui, encontraram (e ainda encontram) dificuldades, quase desistiram, mas venceram as primeiras batalhas. Conseguiram emprego, formaram famílias, se integraram aos brasileiros e constróem vida nova na cidade de São Paulo. Muitos deles começaram essa trajetória na ONG Missão Paz, localizada na região do Glicério, centro de São Paulo. É da entidade a foto em destaque, que mostra uma festa boliviana no Memorial da América Latina.
O casal pernambuco-boliviano
O boliviano Jony Alvarado veio passar férias no Brasil a convite de um amigo que tem uma oficina de costura. Aqui, gastou todo seu dinheiro e, para voltar à terra natal, foi obrigado a trabalhar como costureiro. Sem falar português, ele sequer saía às ruas, ainda mais sendo amedrontado pelo chefe.
“Conforme fui aprendendo português, comecei a sair, até que conheci minha atual esposa”, diz Alvarado, que se casou com a brasileira Uellia Ferreira, de Pernambuco.
Juntos, eles ainda enfrentam o preconceito de outros brasileiros, de quem Alvarado já ouviu que os bolivianos são todos ilegais e vêm para cá para roubar “nossos” empregos.
“Tivemos que pagar muita propina para tentar legalizar a documentação dele, que só veio com a anistia [concedida em 2009 a mais de 40 mil estrangeiros irregulares no Brasil]”, diz Uellia. Somente cinco anos após o início do relacionamento eles conseguiram se casar. Apesar dos percauços, hoje os dois têm empregos estáveis, vivem com os dois filhos e têm muitos amigos brasileiros em São Paulo.
Um congolês na Torre de Babel da saúde
Natural na República Democrática do Congo, Coddy está há mais de seis anos no Brasil. Ele não veio atrás de um sonho, mas porque a difícil situação no país africano o empurrou para isso. “O que conhecia do Brasil aprendi na época da escola. Nunca passou pela minha cabeça que um dia poderia conversar em português”. Ciente de que o idioma era a chave principal para se integrar à sociedade, ele se forçou a aprender nossa língua materna.
Aqui, conseguiu empregos na área da saúde. Começou em um posto de saúde na Cracolândia e, depois, foi transferido para a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Sé, que recebe um enorme contingente de pacientes estrangeiros. “Como eu falo outras línguas, me mandaram pra lá. São pelo menos 15 línguas diferentes que eu escuto por dia”, diz ele, que trabalha na recepção e atende imigrantes que saem de Itaquera, na zona leste, para se consultar no centro.
Apesar do emprego, Coddy lamenta não conseguir validar aqui seu diploma de gestão de informática, conquistado na República Democrática do Congo, onde trabalhava numa empresa do ramo. Neste ano, porém, ele pretende voltar à sala de aula para cursar Comércio Exterior e aproveitar o interesse comercial do Brasil nos países africanos.
Dupla discriminação
Patricia Rivarola é filha de um casal de migrante com imigrante que se conheceram na cidade de São Paulo. Sua mãe chegou à cidade nos anos 1960, vinda do Paraguai, e não falava espanhol, mas sim o guarani, língua difundida pela etnia indígena e até hoje a mais comum no Paraguai. Em uma época em que o país era considerado sujo pelos brasileiros e com o estereótipo da falsificação, foi difícil para a mãe de Patricia conseguir emprego – isso sem contar o preconceito. Ainda assim, ela não era o principal alvo de discriminação.
Criada na periferia de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo, Patricia notava que a principal vítima de preconceito na família era seu, um migrante cearense como tantos outros que formaram as quebradas da cidade. “Eles [os moradores] achavam a minha mãe máximo porque não tinham contato com outros imigrantes, muito menos do Paraguai”, diz ela, que hoje é voluntária na ONG Missão Paz, onde atua no fortalecimento das manifestações culturais.
Peruana ganha família brasileira
A peruana Melanie Dayana Chire Quintana chegou ao Brasil em outubro de 2009. Com dificuldades para encontrar serviço em São Paulo, trabalhou como empregada doméstica e outras áreas mal remuneradas. Grávida, assumiu o filho sozinha e buscou ajuda na Casa do Migrante, mantida pela ONG Missão Paz no centro da capital paulista. Sem condições de voltar ao país de origem e passar mais tempo com os parentes, foi lá que Melanie ganhou uma nova família: o casal Maria e Alceu Landim Alabarse.
Recém-aposentado, o neto de espanhóis Alceu procurou a Casa do Migrante para oferecer aulas gratuitas de português aos imigrantes. “Meus avós foram ajudados, acolhidos e conseguiram criar os seis filhos no Brasil. Por isso, faço esse trabalho com muita alegria”, diz ele, que foi convidado por Melanie para ser padrinho do pequeno Cristian Alexander.
Quando viu a situação de Melanie e seu filho, Maria convenceu o marido a acolhe-los na própria casa. “Poderia ser minha filha”, diz ela. Melanie e o filho passaram a morar num quartinho nos fundos da casa, até se integrarem totalmente ao dia a dia deles. “Eles já fazem parte da nossa vida, da nossa família”, diz Alceu. “Gostaria que as pessoas que continuam na luta para permanecer no Brasil consiga” encontrar outras pessoas que as auxiliem também”, conclui ele.
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Thiago Borges