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foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114No velho continente, um passado de grandes impérios, dinastias e mitos, conquistas territoriais e expansão de uma religião de um deus só. Não, não estamos falando da Europa, e sim da África.
Porém, essa importante parcela de nossa história ainda não é contada nas escolas nem em outros espaços de ensino. No máximo, ouvimos uma mal contextualizada versão sobre a tragédia da escravidão, com pouco espaço para falar dos movimentos de resistência que eclodiram nesse período.
No dia em que se completam 127 anos da Abolição da Escravatura, com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, os descendentes de quem foi escravizado por quase 400 anos ainda lutam por liberdade plena.
“A questão da identidade ainda é uma ferida. As famílias dominadoras têm todo seu contexto histórico narrado, mas a gente não. Então, quando você não sabe nem quem você é, você não vai lutar por seu direito”, aponta Kleber Luís.
“É necessário falarmos isso porque tem gente que ainda acha que não existe racismo”, completa Lili Souza.
Lili e Kleber, ambos com 33 anos, integram o Coletivo Malungo, que por meio da cultura e educação resgata a matriz africana na nossa formação e como seus elementos estão fortemente presentes nas periferias – ainda que muitas vezes a gente nem se dê conta.
É sobre esse trabalho que vamos falar em mais uma reportagem do “Cultura ao Extremo”, projeto realizado com apoio do programa Agente Comunitário de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo que tem o objetivo de mapear e visibilizar as manifestações culturais no Extremo Sul da cidade.
Para saber mais e participar também, clique na imagem abaixo ou responda ao questionário no final da matéria.
Criado no Jardim das Imbuias, distrito de Cidade Dutra, Kleber Luis foi office-boy, feirante e ingressou no movimento punk durante a adolescência.
Foi na fila do busão para voltar dos shows de banda hardcore no centro ou do festival Verdurada, no Jabaquara, que ele conheceu outros punks do Extremo Sul. Em 2004, quando Kleber já atuava como educador em ONGs da região, eles fundaram o Coletivo FACA com intuito de articular atividades de cultura alternativa na quebrada.
Com o fim do FACA, em 2009 Kleber e Fernando Sampaio (outro integrante do grupo) começaram a atuar com Lili e Juliano Angelin no coletivo Radioativo com a proposta de resgatar a memória de grupos dos movimentos punk e hip hop na Capela do Socorro.
Espaços como o centro esportivo Gigantinho, no Grajaú, e a Casa Ecoativa, que voltou a funcionar ano passado na Ilha do Bororé, foram fundamentais para conhecer e se articular com quem produzia cultura crítica na região – como o grupo de rap Xemalami.
Entre a realização de oficinas de rádio livre em parceria com a Rádio Várzea e produção da pesquisa sobre movimentos culturais, Kleber e Lili se casaram.
Após dois anos de pesquisa e o lançamento de uma coletânea com composições dos participantes, o Radioativo chegou ao fim e o casal continuou atuando em movimentos sociais da região.
Nessa época, a Rede Extremo Sul enfrentava os despejos de moradores que aconteciam aos montes nas bordas represa Billings; e famílias lutavam por saúde no Recanto Cocaia e melhores condições de ensino na Escola Estadual João Silva.
“É muito importante para mim participar dessas lutas coletivas, porque senão fico muito abatida. Me sinto melhor, acolhida e com vontade de fazer também”, conta Lili, nascida e criada no Jardim Eliana, distrito do Grajaú, e hoje professora de História na rede estadual.
Em 2011, Kleber e Lili montaram um negócio próprio para ter mais autonomia e fazer o que gostavam. E após dois anos de dedicação exclusiva ao 1º Andar Studio & Produções, a partir de conversas com bandas alternativas e rappers locais, eles e Juliano Angelin decidem criar o Coletivo Malungo.
Em 2013, completava-se uma década de entrada em vigor da lei 10.639, que obriga o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira nos espaços de ensino.
“A gente brisa como o racismo se refletia nas escolas, nas periferias, e como a gente vê nossa própria história e constrói essa identidade negra e periférica”, explica Kleber, historiador de formação, assim como Lili. “Começamos a pensar no papel da educação para combater o racismo e como poderíamos criar ferramentas para que as pessoas conseguissem multiplicar essa luta por meio da cultura”, complementa Lili.
Com fomento do Programa VAI e o slogan “Não deixe sua cor passar em branco”, utilizado pelo Movimento Negro no censo de 1991, o Coletivo Malungo lançou o caderno ilustrado “Africanidades”, que apresenta uma bibliografia básica para trabalhar o conteúdo exigido pela lei 10.639 na sala de aula; e um documentário e um CD com músicas de artistas de diferentes gêneros e suas trajetórias nas lutas periféricas. Participam o rapper Robsoul e o grupo Semblantes, as bandas Razzalfaya e Apologia Groove, entre outros.
E se no ano passado, o Malungo focou na difusão desses conteúdos com a realização de festivais e rodas de debate, em 2015 o objetivo é discutir a situação do negro na periferia.
“Queremos circular em locais de resistência no Extremo Sul, como eram os quilombos, e associar a organização de ambos os espaços, onde se criam estratégias de sobrevivência”, explica Kleber.