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Matriarcas: No bairro das mães solo, Marina Amparo adotou 58 crianças para dar uma família a elas – Periferia em Movimento

Matriarcas: No bairro das mães solo, Marina Amparo adotou 58 crianças para dar uma família a elas

Texto por Thiago Borges. Idealização: Lucimeire Juventino. Reportagem, roteiro e edição: Evelyn Arruda, Lucimeire Juventino, Pedro Ariel Salvador e Thiago Borges

Mulher negra, Marina Amparo é questionada por quem se surpreende em vê-la numa condição em que não é vítima, mas sim quem empodera outras pessoas. Contra o racismo e na certeza de que está lutando pela existência de outras crianças negras e pobres como ela já foi, seu trabalho é erguer cada indivíduo, a família e toda a comunidade ao seu redor.

Ela cresceu no Jardim Sabiá, bairro do Extremo Sul de São Paulo que nasceu com a doação de terras para mais de 50 mães solo e suas crianças. E nesse pedaço de chão na periferia paulistana, construiu uma grande família com 58 filhos.

Por isso, neste mês de julho em que o Estatuto da Criança e dos Adolescentes (ECA) completou 29 anos no último dia 13 e em que celebra-se a Mulher Negra Latino-americana e Caribenha neste dia 25, Marina Amparo é a personagem do quinto episódio de “Matriarcas”.

Idealizada pela escritora e professora Lucimeire Juventino e realizada pela Periferia em Movimento, nesta série de reportagens contamos histórias de mulheres que cavaram os alicerces de lutas por direitos que continuam fortes até os dias de hoje.

Assista:

Saiba mais sobre a história de Marina

Filha de mãe solo, Marina nasceu no dia 22 de abril de 1966 no Amparo Maternal (daí, seu sobrenome “Amparo”). A maternidade foi fundada em 1939 pela madre franciscana e assistente social francesa Marie Dominieuc, pelo arcebispo de São Paulo Dom José Gaspar e pelo médico obstetra Álvaro Guimarães Filho para prestar assistência a mães solo – geralmente, mulheres pobres e negras que eram abandonadas por suas famílias em uma época em que a gravidez fora do casamento era rotulada de “prostituição”.

Na década de 1960, a madre Dominieuc conseguiu a doação de mais de 50 lotes de terra para construção de moradias para essas famílias formadas por mulheres e crianças. Assim nasceu o Jardim Sabiá, bairro que faz parte do Grajaú, distrito do Extremo Sul de São Paulo, aonde Marina chega anos depois.

Com apoio do Amparo Maternal e da Escola Paulista de Medicina, a freira francesa desenvolveu um trabalho assistencial com essas famílias, com cursos de geração de renda e profissionalizantes para muitas delas. Algumas trabalhavam como auxiliar de enfermagem no Hospital São Paulo ou no próprio bairro, com o posto de saúde conquistado por essa luta, enquanto outras atuavam na creche e na própria escola local.

Criada por muitas mulheres que construíram esse bairro, Marina frequentou o convento. Inspirada na atuação de Dominieuc e outras freiras, decidiu dar continuidade a esse trabalho com o marido Lucio, que também cresceu no Jardim Sabiá. No Lar Casa do Caminho, acolheu 03 crianças. E depois mais e mais. Mas não era um abrigo comum, e sim uma família. Ao todo, 58 filhos passaram por essa casa – ainda hoje, o casal tem a guarda judicial ou a adoção de mais de 20 filhos menores de 18 anos que vivem no espaço.

O Jardim Sabiá cresceu e os moradores em geral reconhecem o trabalho de Marina Amparo. A vizinha Teresa Aparecida Pereira é voluntária há quatro anos e meio – e venceu a depressão com o apoio de Marina. “Gosto muito dela. O que eu mais fizer pra agradar é pouco”, conta.

Mais do que acolher, o objetivo é dar base para construção de um futuro melhor para seus filhos. Por isso, Marina articula com escolas, creches e centros de convivência da juventude para garantir a frequência da molecada nos espaços de aprendizagem; abriu um brechó e está construindo um espaço que vai oferecer cursos profissionalizantes para trabalhar em pizzaria, restaurante, além de um samba na laje pra comunidade; e podem acontecer dois ou três aniversários por semana, mas todos eles são comemorados com festa.

“Eu não tive família. Sou fruto do abandono. Então quero dar a eles uma família, para que eles saibam de onde vieram”, completa Marina.

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