#NossoBonde: “Precisamos desenvolver uma pedagogia da periferia”

Foto: Divulgação / Santos Mártires

O ano: 1996. O lugar: Jardim Ângela, Extremo Sul de São Paulo. O título: região mais perigosa do mundo, segundo a ONU.

A partir desse “título”, que alertava para os índices alarmantes de violência em uma periferia paulistana que ficou estigmatizada, um padre católico resolveu agir. Jaime Crowe deu gás na articulação de moradores. A mobilização continua firme até os dias de hoje.

Não por acaso, padre Jaime faz parte do #NossoBonde, série que a Periferia em Movimento publica todas as segundas-feiras de 2019. Neste ano em que completamos uma década de jornalismo de quebrada, convidamos moradoras e moradores das quebradas que nos ajudaram a refletir sobre a realidade na perspectiva periférica ao longo desse período – e, também, pra saber como imaginam os próximos 10 anos.

Com 74 anos atualmente, Jaime vive há 50 nas quebradas de São Paulo – primeiro, no município de Embu das Artes; depois, desde 1987, no Jardim Ângela. No Extremo Sul da cidade, se deparou com uma situação de abandono.

“Quando analisávamos as causas da violência era colocada em primeiro lugar a ausência do poder público, em segundo lugar a falta de perspectiva para os jovens, e em terceiro lugar o tráfico de drogas”

– Padre Jaime Crowe, 73 anos, do Jardim Ângela

Integrante das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em 1988 padre Jaime fundo a Sociedade Santos Mártires, uma associação sem fins lucrativos que se especializou em abrigar as demandas da região. Diante das altas taxas de homicídio, estimulou a criação do Fórum em Defesa da Vida, com objetivo de incentivar, criar e desenvolver ações que contribuam para a superação da violência na sociedade.

O chamado “triângulo da morte” (como ficou conhecida a região entre Jardim Ângela, Jardim São Luís e Capão Redondo) ganhou os noticiários e maior atenção das autoridades. “Tivemos muitas conquistas, a região melhorou muito em área de educação, assistência e saúde”, conta o padre.

Caminhada pela Vida e pela Paz (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

Nos últimos 10 anos, ele vê como força o surgimento dos coletivos culturais e saraus periféricos, que passaram a pautar a cidade de São Paulo e colocar as periferias de forma positiva. Daqui para frente, o desafio é ampliar essas conquistas e as transformações promovidas por esses grupos. “Porque as coisas não vêm de cima, a periferia nunca ganhou coisas de cima”, ressalta.

Em tempos difíceis, Jaime defende a ocupação dos espaços pelos coletivos, ampliando as diferentes formas de aprender e agir politicamente. “Acho que nós precisamos refletir cada vez mais e desenvolver uma pedagogia da periferia. Acho que isso tá acontecendo nesses grupos”, completa.

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