Periferias no poder: 100 dias de mandatos periféricos na Câmara de SP

Reportagem de Thiago Borges. Edição de vídeo por Pedro Ariel Salvador e Vitori Jumapili. Design: Rafael Cristiano

Ainda era o 30º dia de 2021 quando um homem foi visto efetuando disparos em frente à casa de Samara Sósthenes na região de Guarapiranga, Extremo Sul de São Paulo. Samara é co-vereadora pelo Quilombo Periférico, mandato coletivo eleito no ano passado na cidade de São Paulo. Naquele semana, outras 2 parlamentares trans e travestis sofreram ataques e ameaças: em 27 de janeiro, Carol Iara (que integra o mandato coletivo Bancada Feminista) denunciou um atentado a tiros contra a casa em que estava com mãe e irmão, na zona Leste. E no dia 26, dentro da Câmara Municipal, um homem perseguiu Erika Hilton – vereadora trans e negra que foi a mulher mais votada para o legislativo paulistano, com 50 mil votos.

Os casos acima marcaram o início desses mandatos que, além de fazerem parte do PSOL, são compostos por pessoas trans, negras e periféricas – historicamente, grupos muito pouco representados nesse ambiente. “Quando chega um ‘corpo’ parecido com o nosso na Câmara, eles [funcionários] já sabem que tá indo no nosso gabinete”, explica Elaine Mineiro, co-vereadora titular do Quilombo Periférico, que além dela e de Samara agrega outras 4 pessoas (Alex Barcellos, Debora Dias, Erick Ovelha e Julio Cezar Andrade).

Com 100 dias de mandato, as dificuldades continuam muitas, mas também há aprendizados e conquistas para celebrar. A Periferia em Movimento conversou com o Quilombo Periférico e com Luana Alves, que é líder do PSOL na Câmara e tem uma trajetória política construída na saúde público e junto a cursinhos populares da Rede Emancipa, muito presente em periferias da cidade.

Assista abaixo:

A última eleição municipal registrou o recorde de 2 mil candidaturas para 55 cadeiras de vereador – o que dá uma média de 35 candidatos por vaga. Como abordamos durante a campanha, muitas dificuldades marcaram essas candidaturas – desde a pandemia até a falta de recursos financeiros para disputar o pleito igualitariamente.

Ainda assim, algumas candidaturas identificadas com as pautas antirracista, antimachista e antilgbtfóbica e, ao mesmo tempo, por direitos sociais fundamentais, conseguiram se eleger. O desafio, agora, é entender os mecanismos do poder para pautar essas questões.

Luana lembra de uma ocasião em que não foi informada sobre uma reunião de líderes de partidos com o vice-prefeito Ricardo Nunes – e, literalmente, seguiu um grupo de parlamentares brancos para descobrir do que se tratava.

No Quilombo, o grupo de co-vereadores tem se colocado em diversas discussões, desde o uso de instrumentos para cobrar ações de zeladoria urbana até a participação em comissões. “É fazer justamente o papel do vereador”, ressalta Elaine, primeira mulher negra a presidir a Comissão de Finanças da Câmara, que entre as atribuições é responsável por analisar o orçamento e os tributos do município.

Tanto para Luana quanto para o Quilombo Periférico, é fundamental que haja um acompanhamento da rotina da Câmara pela sociedade. “A gente tem que pressionar do lado de fora”, completa Luana.

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