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“Tá tirando a gente de idiota”: governo enrola e frustra quem precisa de auxílio de R$ 600 – Periferia em Movimento

“Tá tirando a gente de idiota”: governo enrola e frustra quem precisa de auxílio de R$ 600

Quantas vezes você visualizou alguma dessas mensagens nos últimos dias?

“Em análise”. “Não é possível acessar esse site no momento”. “Pedido negado”. “Tente novamente amanhã”.

O cadastro de trabalhadores informais, autônomos e desempregados para receber o auxílio emergencial de R$ 600 começou no dia 07/04. No dia 09/04, o pagamento começou para aqueles já inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) e aptos ao benefício. E na semana passada, quem se inscreveu pelo site ou aplicativo do governo também começaria a receber.

A angústia é dupla. Filas quilométricas se formam em torno de agências bancárias e casas lotéricas (como da foto em destaque, localizada no Jordanópolis, região da Cidade Dutra). E outros milhões de brasileiros seguem angustiados ao tentar acompanhar a solicitação do auxílio emergencial de R$ 600 ou quando já tiveram o pedido aprovado mas não conseguem usar o aplicativo Caixa Tem pra fazer a transferência.

“Está em análise ainda, acredita?”, diz a diarista Cássia Aparecida Monteiro, que mora com o filho João Gabriel no bairro do Colônia Paulista (Parelheiros, Extremo Sul de São Paulo). Há 02 semanas, a Periferia em Movimento contou a história dela, que teve dificuldades para solicitar o auxílio num bairro em que não pega celular. Agora, a angústia de Cássia é outra. “Se desse negado, a gente sabe o que fazer. Mas esse “em análise” fica dando esperança”, completa.

Quem também entrevistamos na ocasião e está “em análise” é o barbeiro Sidnei Silva Chagas, do Barragem, também região de Parelheiros. Ele saiu de casa no dia 14, foi até o Grajaú e conseguiu sinal pra se cadastrar. “Mas até agora nada”, diz.

O teste de paciência não termina quando acontece a aprovação

“Eu achava que não tinha como ser pior. Mas quando foi aprovado, veio a minha surpresa”, diz Fabiana Rodrigues, que mora em Guaianases (Zona Leste). Mesmo inscrita no CadÚnico, ter sido beneficiária do Bolsa Família até fevereiro e com contas ativas na Caixa e no Banco do Brasil, o dinheiro dela foi transferido para uma poupança digital que Fabiana não consegue acessar pelo aplicativo Caixa Tem.

“Há uns 5 dias vivo uma ansiedade enorme, inúmeros erros desde o cadastro até as tentativas de transações. Não consigo acessar durante o dia, preciso tentar acessar entre 6h e 7h e ainda assim dá erro. Mesmo precisando muito, ainda não consegui transferir meu auxílio”, conta Fabiana.

Aplicativo Caixa Tem: indisponível

Para a pedagoga desempregada Bruna Santana, de 25 anos, a sensação é de estar “perdida”. Tanto ela quanto a esposa, que é tatuadora e está sem trabalhar por conta da quarentena, tiveram o auxílio aprovado na segunda-feira (20/04) e enfrentam dificuldades em acessar a conta digital. “Estamos com todas as contas atrasadas e nos virando para manter o ter o comer”, explica Bruna, que mora no Santo Amélia (distrito de Pedreira, Zona Sul).

Moradora do Jardim Pantanal (Zona Leste), Luana Almeida estava começando a tirar os planejamento anual do papel quando eles foram interrompidos pela pandemia – junto com os contratos de prestação de serviço. A produtora cultural de 24 anos atua como microempreendedora individual (MEI) e se cadastrou pelo site no dia 08 de abril.

Apesar de também ser inscrita no CadÚnico, tanto Luana quanto o pai (que é pedreiro autônomo) precisaram informar os dados pessoais novamente e tiveram uma conta digital criada pela Caixa Econômica Federal. No dia 14, seu pedido foi aprovado e, desde então, ela tenta entrar no aplicativo Caixa Tem. Somente ontem (dia 22/04), ela conseguiu verificar a conta. Mas quando tenta transferir o dinheiro para outra conta bancária, dá erro.

“São os R$ 600 mais difíceis de se conseguir. Parece até que a gente tá pedindo, se humilhando, de pensar que a gente tá ganhando e esquecer que isso é nosso, que são impostos que a gente pagou (…) Estão tirando a gente de idiota”.

Luana Almeida

Assim como outros trabalhadores da área artística, ela está tirando dinheiro de onde não tem pra pagar contas que já se acumulavam desde antes. “Essa demora, bagunça, atraso é responsabilidade do Bolsonaro”, salienta Luana.

Para Monica Marques, a situação é ainda mais confusa. Ela pediu o auxílio pelo site no dia 14. Rapidamente, no dia 16, já constava como aprovado e que o depósito seria feito na conta dela no Banco do Brasil. No dia 20, a mensagem dizia que o depósito já havia sido feito, mas até esta quinta-feira (23/04) a grana ainda não tinha caído.

“O telefone 111 [pra tirar dúvidas sobre o auxílio] não funciona, nem os do Banco do Brasil estão atendendo”, diz Monica, que mora na Chácara do Sol (Grajaú, Extremo Sul de São Paulo).

Ela tentou ajuda pelo chat on-line do banco, que indicou o endereço http://www.bb.com.br/auxilioemergencial. Porém, quando Monica busca por seu CPF, o site diz que não há pagamento processado e indica voltar ao sistema da Caixa. A mensagem diz ainda para não ir a alguma agência.

Mensagem recebida por Monica: de um lado pro outro

A Periferia em Movimento entrou em contato com a assessoria de imprensa do Banco do Brasil, que enviou a seguinte nota:

“Alguns clientes relataram inconsistências na mensagem disponibilizada pelo APP Auxílio Emergencial, disponibilizado pela Caixa.

As informações disponibilizadas no site http://www.bb.com.br/auxilioemergencial estão consistentes e devem ser consideradas pelos beneficiários do Auxílio Emergencial que indicaram contas no Banco do Brasil para o recebimento do benefício.

Em caso de dúvidas sobre a indisponibilidade dos recursos, os clientes devem consultar o site https://auxilio.caixa.gov.br  ou o aplicativo “Caixa Auxílio Emergencial” para verificar se fazem parte do público-alvo inicial ou para se cadastrarem. Dúvidas também podem ser esclarecidas pelo telefone 111.

Todos esses relatos chegaram à reportagem por meio do nosso canal no whatssap (11 957816636). E o único positivo foi o de Claudemiro Junior, de 55 anos, morador do Cantinho do Céu (Grajaú). Ele é designer gráfico autônomo e perdeu boa parte dos trabalhos, já que 90% dos clientes estão com portas fechadas. “Nesse momento difícil, esse dinheiro com certeza vai ajudar muito”, diz ele, que é contribuinte individual do INSS e recebeu o primeiro pagamento no dia 09 de abril.

O que nós sabemos a respeito

  • Até a manhã de quinta-feira (23/04), a Caixa já tinha feito o pagamento de R$ 23,5 bilhões referentes à primeira parcela para 33,2 milhões de pessoas
  • Desse total, 10,5 milhões são inscritos no CadÚnico sem recebimento do Bolsa Família, outros 9,6 milhões já eram beneficiários do Bolsa Família e 13,1 milhões são informais que se cadastraram pelo site ou aplicativo
  • Até o dia 22 de abril, 45,9 milhões de pessoas já tinham concluído a solicitação pelo site ou aplicativo
  • No mesmo dia, o Ministério da Cidadania informou que ainda faltava analisar quase 12 milhões de cadastros
  • Pra quem se inscreveu no site ou aplicativo depois de 11 de abril, o pagamento deve começar só a partir de 29 de abril
  • Dos R$ 32,7 bilhões previstos para pagar a primeira parcela, já foram transferidos R$ 31,3 bilhões – e o governo precisa da aprovação de um crédito suplementar pra finalizar esses pagamentos
  • Os saques em espécie para quem fez o cadastro pelo site ou aplicativo só começarão a partir do dia 27 de abril
  • Nessa data, também começaria o pagamento da segunda parcela de R$ 600 – mas isso segue indefinido diante da comunicação do governo de que falta dinheiro

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