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domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114mfn-opts
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114Por Aline Rodrigues e Thiago Borges
No feriado da Paixão de Cristo (10/04), Maxuel de Melo Gadi precisou buscar um balde d’água na casa de vizinhos porque ficou com as torneiras secas. O cineasta da Fluxo Imagens mora no Jardim Piracuama (região do Campo Limpo, zona Sul de São Paulo) com a mãe e o irmão. “Faltou água meio-dia e ficou até a madrugada sem”, diz. No geral, a água por ali acaba depois das 22h e não afeta muito a família, que tem caixa d’água em casa. “Mas muitas pessoas são afetadas e ficam sem tomar o banho da noite”, complementa.
Essa situação era vivenciada por Katiane Patrícia Barbosa Gadi, cunhada de Maxuel, que não tem reservatório na sua residência: todos os dias, a água acabava à noite e o abastecimento só voltava às 04h. “Hábito de reservar água aqui em casa sempre tivemos, pra uma falta repentina”, conta ela, que mora com o marido na Vila Prel, próximo à estação Campo Limpo, e aguarda o fim da quarentena para retomar o trabalho em um quiosque de shopping.
Bianca Santana, pesquisadora de raça e gênero e militante da rede de cursinhos populares Uneafro, aponta que esse desabastecimento que potencializa doenças é característico do racismo ambiental, que segrega pessoas negras a viver em territórios mais vulneráveis aos acontecimentos climáticos – áreas de encosta ou várzeas, que são suscetíveis a desabamentos e alagamentos, muitas vezes em periferias e favelas.
“São as pessoas negras, infelizmente, que vivem nos territórios mais vulneráveis, que têm menos direitos e a urbanização está menos presente. A crise de abastecimento começa em algum lugar, que é justamente onde essas pessoas moram”
Bianca Santana
Ela salienta que a falta de investimento em saneamento básico tem impacto direto na prevenção ao coronavírus. “A primeira recomendação é lavar as mãos com água e sabão. Se nesses lugares muitas vezes não tem esgoto, saneamento básico, não tem água encanada ou não tem acesso a ela o tempo todo, como você vai lavar as mãos?”, questiona.
O que fazer? Informativo sobre “Direito à Água” elaborado pelo Observatório Nacional dos Direitos à Água e Saneamento (ONDAS), que reúne pesquisadores de várias universidades brasileiras, explica medidas que a população pode tomar na situação da pandemia – desde pedir isenção da tarifa mensal até pedir informações públicas sobre a situação. Clique aqui e faça o download.
Atenta a isso, ainda em março a Coalizão pelo Clima iniciou um mapeamento de pontos em que falta água na região metropolitana de São Paulo. Para indicar onde falta água, preencha esse formulário. O movimento, que pauta os efeitos do colapso ambiental em diferentes territórios, identificou pelo menos 200 locais que sofrem com o desabastecimento que ocorre principalmente no período noturno, quando a Sabesp (companhia de saneamento básico) diminui a pressão da água que sai dos reservatórios.
O mapa abaixo foi elaborado por Denise Manfio, docente da Escola de Engenharia e Tecnologia da Universidade Metodista de São Paulo, com os dados obtidos pela Coalizão pelo Clima, cruzando outras informações como riscos de inundação e desabamentos, áreas de favelas e vulnerabilidade social, por exemplo.
A Coalizão também sinalizou a dificuldade para pessoas em situação de rua conseguirem se higienizar. Como resposta, a Sabesp e a Prefeitura de São Paulo devem instalar 10 pias na região central. Mas a Coalizão questiona, apontando a dispersão da população de rua pela cidade e a necessidade de garantir o abastecimento de entidades que acolhem e oferecem banho a essas pessoas.
Sobre o desabastecimento em determinados bairros, a Sabesp argumenta que são problemas pontuais e está buscando resolver localidade por localidade. Mais 100 pias também devem ser instaladas em favelas no período de um mês. E a companhia pretende distribuir 2.400 caixas d’água a famílias periféricas.
Articulada com o mandato da Bancada Ativista na Assembleia Legislativa de São Paulo, a Coalizão conseguiu que o Ministério Público movesse um processo. Em 07/04, a Justiça deu 72 horas para a Sabesp apresentar um cronograma para implementar medidas para sanar todos os pontos de desabastecimento de água, mas a liminar foi suspensa pelo presidente do Tribunal de Justiça na última quinta-feira (16/04).
Para o co-deputado estadual Fernando Ferrari, da Bancada Ativista, o mandato parlamentar vai tentar reverter essa decisão de alguma forma. Segundo ele, a falta de água é um processo de longa data e, em muitas localidades, se arrasta desde a crise hídrica de 2014 e 2015. “Antes da pandemia, muitos trabalhadores que saíam de casa às 05h da manhã tinham que tomar banho de caneca”, relata.
Com a emergência da pandemia, o cenário só se agrava. “É uma situação calamitosa, é uma violação em direitos humanos”, conclui Ferrari. Enquanto isso, na Vila Prel, a falta d’água cessou na casa de Katiane com o avanço da pandemia. Ela não sabe por quê, mas menos mal que seja assim.
Esse conteúdo faz parte da #SalveCriadores, uma iniciativa que a partir do apoio a coletivos e criadores de conteúdo das periferias de São Paulo vai trazer reflexões e dados sobre a crise da COVID-19 e seus reflexos nas populações negras e periféricas. O projeto, desenvolvido pela Purpose, busca reforçar o importante trabalho que vem sendo feito por criadores de conteúdo e trazer pontos de vista e perspectivas que ainda não foram levantados. Os coletivos que fazem parte dessa iniciativa são o Alma Preta, o Nós, Mulheres da Periferia, a Periferia em Movimento e a Rádio Cantareira. Os conteúdos serão publicados nos canais de cada coletivo e divulgados nas redes sociais do Cidade dos Sonhos.