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Mulheres se unem contra violência: “A quarentena não significa segurança para todas” – Periferia em Movimento

Mulheres se unem contra violência: “A quarentena não significa segurança para todas”

Edição de texto: Thiago Borges

Num País como o Brasil, em que a cada 02 segundos uma mulher sofre algum tipo de agressão física ou verbal, o isolamento social imposto pela crise de saúde minimiza o contágio de coronavírus mas potencializa os casos de violência dentro de casa. Por isso, grupos e redes formados por mulheres nas periferias de São Paulo estão se organizando para combater as agressões e acolher vítimas em meio à pandemia.

“Num momento como este, as mulheres são as primeiras a identificar que a quarentena em casa não significa a segurança para todas, já que muitas vivem com homens agressores e violentos”

Helena Silvestre, idealizadora da Escola Feminista Abya Yala, que há um ano realiza encontros de estudo e cuidado coletivo para fortalecimento principalmente das mulheres periféricas da Zona Sul da capital paulista.

De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, houve um aumento de 9% nas denúncias desse tipo de ocorrência no Ligue 180 (serviço que recebe denúncias de violência contra a mulher) nos primeiros 12 dias desde a decretação da pandemia. Apenas no Estado do Rio de Janeiro, o aumento de ocorrências foi de 50%, segundo dados da Justiça.

Enquanto senadores e deputados federais discutem medidas para combater a situação, mulheres que estão nas quebradas já estão agindo. “Quem pode produzir as melhores soluções para um problema é quem vive na pele a situação a ser resolvida, e assim as iniciativas de mulheres para mulheres rompem a hierarquia comum de que alguém venha nos ajudar”, ressalta Helena Silvestre.

Formada por mulheres com papel ativo no território, entre educadoras, agentes culturais, comunicadoras, donas de casa e mães, a Escola Feminista amplia os laços com outras iniciativas locais que lançaram campanhas para atender a população local nesse momento de dificuldade.

A rede tem uma vaquinha on-line para arrecadar dinheiro (clique aqui pra doar) e criou 03 formulários:

  • para identificar mulheres que precisam de ajuda com alimentos, itens de higiene ou lidar com violência (clique aqui);
  • para receber denúncias de violência doméstica, situações no trabalho, no comércio ou serviço público (clique aqui);
  • para mulheres que desejam ajudar outras com apoio no cuidado de crianças, realizando compras, coletando ou entregando doações ou com apoio jurídico (clique aqui).

Cuidado redobrado

No Grajaú, Extremo Sul de São Paulo, o A Bordar Espaço Terapêutico segue na mesma linha da Escola Feminista Abya Yala. O espaço criado por um grupo de psicólogas da quebrada fomenta cuidados com a saúde mental entre mulheres periféricas.

“Diariamente, já temos demandas de sobrecarga para mulheres periféricas (…) Com a covid-19, vem uma preocupação que é de saber que muitas mulheres convivem com o agressor sob o mesmo teto e, agora, em quarentena”

Elânia Francisca, psicóloga, educadora e integrante do A Bordar

Inicialmente, elas lançaram um questionário na internet (clique aqui para acessar) com 02 objetivos. “O primeiro é para sabermos quais demandas as mulheres periféricas enfrentam em tempos de covid-19, e o segundo pensar em como contribuir para que elas recebam auxílio necessário para estar minimamente em segurança durante esse processo”, diz Elânia.

Além disso, o A Bordar se uniu às coletivas 8M na Quebrada e Periferia Segue Sangrando para:

  • identificar e auxiliar mulheres que precisam de ajuda para cuidar de crianças (clique aqui)
  • ou para pagar contas, receber alimentos ou remédios. (clique aqui)

“Estamos nos articulando com outras mulheres e frentes de atuação nesse sentido, buscando fortalecer a rede de cuidado e proteção para as nossas nesse momento”, conta.

Evento “O Protagonismo É Sapatão”, que aconteceu em agosto de 2019 no A Bordar (Foto: Carolina Messias)

Mulheres à frente

Para Helena Silvestre, essa crise deixa evidente que as estruturas de organização social chegaram a um limite. “O poder de estado – historicamente centralizado e masculino – recorre aos trabalhos de cuidar, limpar e preparar alimentos de forma adequada como as tarefas mais essenciais da vida e que recaem sobre as costas das mulheres há séculos”, avalia.

Nesse sentido, questões como o cuidado com as crianças e o auxílio psicológico ficam marginalizadas nas decisões dos homens da “grande política”.

“Retomar e aprofundar essa rede de mulheres em defesa da vida (…) vai nos ensinando que somos o melhor governo pra nós mesmas”, completa Helena.

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