web-stories
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114mfn-opts
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114Texto por Thiago Borges. Idealização: Lucimeire Juventino. Reportagem, roteiro e edição: Lucimeire Juventino, Pedro Ariel Salvador e Thiago Borges
Aos 80 anos, Maria de Lourdes Souza já passou muito perrengue na vida: da fome à migração forçada até a morte de alguns filhos. Mas sempre manteve a fé na proteção divina. E hoje, olha pra gente com piedade. “Vocês não vivem. Quem viveu fui eu”, sentencia.
A culpa não é do mundo, mas das pessoas: a ganância pelo poder, os agrotóxicos que envenenam a comida, as relações frágeis que estabelecemos entre nós… Tudo isso, alinhado à estrutura racista e genocida, desperta pena em Dona Lourdes. “Se eu pudesse, eu consertava o mundo”, diz ela, que lida com as dores das pessoas que a visitam em busca de cura, em um sítio no Jardim São Norberto, Extremo Sul de São Paulo.
Dona Lourdes é a sexta entrevistada de “Matriarcas”. Idealizada pela escritora e professora Lucimeire Juventino e realizada pela Periferia em Movimento, nesta série de reportagens contamos histórias de mulheres que cavaram os alicerces de lutas por direitos que continuam fortes até os dias de hoje.
Assista:
Nascida em Ponte Nova, no interior de Minas Gerais, ela também morou em Cruz das Almas, na Bahia. Foi ainda na infância que seu dom da cura começou a se manifestar, o que preocupou à família. Em busca da solução para o “mal” que fazia Dona Lourdes desmaiar, os pais a levaram em igrejas e religiosos, mas foi uma avó paterna que deu o veredito: ela não tinha nada de mais, isso era presente de Deus.
Aos 12 anos, o pai dela pediu para que benzesse uma vaca doente, que logo se curou. Com 14, Dona Lourdes fez seu primeiro parto: teve que cuidar do nascimento da sobrinha, filha de sua irmã, já que a mãe estava na cidade. Assim construiu uma vida inteira, entre trazer gente nova ao mundo e lidar com as dores de quem já tava por aqui.
Mas a migração se impôs. Apesar da casa grande de 09 cômodos, as dificuldades do interior obrigaram a mudança para São Paulo. Em 1970, veio pra capital paulista num comboio de 11 pessoas: além dela, o marido, 02 cunhadas, 07 filhos e 01 idoso doente. “Não tinha roupa pra vestir, comida pra comer. Vim em busca de uma vida melhor”, lembra-se.
Por aqui, durante anos a família dividiu uma casa de 02 cômodos no Jardim Mirna, Extremo Sul de São Paulo, em uma época em que a vizinhança somava meia dúzia de moradias.
Com as dificuldades, o dom ficou em segundo plano – até que a necessidade do povo em volta novamente se colocou em seu caminho. Dona Lourdes se tornou uma referência no bairro, que cresceu e se urbanizou. E, pra seguir com seu trabalho diretamente ligado à natureza, mudou-se novamente com o marido – Seu José – para um sítio em uma área rural do Jardim São Norberto, no distrito de Parelheiros.
No quintal, cultiva as principais ervas e plantas medicinais que utiliza para benzer ou fazer garrafadas. Num quartinho, ficam as imagens de santos e divindades protetoras, para quem acende velas e deposita os pedidos de quem procura sua ajuda.
Dona Lourdes não cobra pelos atendimentos. Não mercantiliza a fé. Simplesmente, obedece o que os ancestrais africanos e indígenas “sopram em seus ouvidos”, em suas próprias palavras. Em troca, pede balas, um par de meias quentes ou fumo pra colocar no cachimbo que a acompanha ao longo de uma vida. O milagre é dádiva.