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domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114mfn-opts
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114Cai uma garoa fina em Parelheiros. A 40 quilômetros do Centro de São Paulo, os termômetros marcam 12ºC numa noite de sábado. O frio parece mais intenso, mas não desanima Jéssica dos Santos Alves, que prepara cachorro quente enquanto adolescentes, jovens e seus familiares vendem milho cozido, bolos, salgados e cartelas de bingo em barracas armadas na praça principal.
Enquanto isso, Jéssica acredita que manter o UPD às custas de um esforço pessoal é importante não só para apresentar uma opção como também para denunciar a negligência do Estado. “A única coisa que fazemos para nos manter é olhar a nossa volta e ver o quanto o projeto transformou nossas vidas”, ressalta.
Ela cita as estatísticas para validar o que é perceptível pelos milhares de moradores da região: Parelheiros apresenta o segundo pior índice de desenvolvimento humano entre os 96 distritos de São Paulo e não possui sequer um espaço cultural público, assim como Cidade Ademar e Ermelino Matarazzo. Não por acaso, essa ausência do Estado se dá em uma região que tem o maior percentual de população negra do município (56%) e conta com diversas aldeias guarani na terra indígena Tenondé Porã.
O único CEU existente no distrito não tem um teatro. Em toda a região Extremo Sul, que compreende as Prefeituras Regionais de Capela do Socorro e Parelheiros, o Centro Cultural Grajaú é o único equipamento público administrado diretamente pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) para uma população de quase 800 mil habitantes.
De ícones do RAP nacional ao efervescente movimento de saraus literários, a Zona Sul se firmou no mapa da cidade como importante celeiro cultural. E no Extremo Sul, o avanço da cidade sobre os mananciais se reflete nas manifestações artísticas – do graffiti ao teatro. Em 2015, o mapeamento “Cultura ao Extremo”, realizado pelo Periferia em Movimento, identificou ao menos 168 agentes culturais atuando nessa região. A pesquisa também apontou que a falta de recursos financeiros é o principal empecilho à manutenção dos projetos: mais da metade dos coletivos que responderam a pesquisa, por exemplo, não tem fomento público. Relembre aqui.
Para o gestor e produtor cultural Gil Marçal, com ou sem recursos do Estado, os movimentos e coletivos têm se organizado e garantido na prática o direito à cultura para a população. Porém, isso não tira a responsabilidade do poder público. “As pessoas que não têm recursos para comprar seu direito cultural têm que ter esse direito garantido pelo Estado”, observa Marçal, que coordenou o Programa VAI (política pública de incentivo à autonomia cultural da juventude periférica), dirigiu a área de Cidadania Cultural da SMC e foi chefe da representação regional do Ministério da Cultura (MinC) em São Paulo.“A prioridade é atender quem não tem como comprar a cultura, ou realizar grandes eventos e atender um segmento da sociedade que já tem acesso a esse direito? É a distribuição do orçamento no território que mostra como uma gestão tá pensando suas diretrizes”, observa ele, sintetizando o conceito de cidadania cultural que foi sistematizado na década de 1980 pela filósofa Marilena Chauí.
Para Marçal, o desmonte na cultura ganha força em 2016, quando Michel Temer assume a Presidência da República e, entre seus primeiros atos, extingue o MinC. A mobilização de artistas Brasil afora conseguiu reverter a decisão, mas o recado foi dado: esse não é um assunto de grande importância pra quem está à frente do País desde então. “De alguma forma a política nacional influencia a estadual e a municipal”, explica Gil.
Em São Paulo, isso se reflete principalmente no congelamento de 43,5% no primeiro ano da gestão de João Doria. Entre as ações do ex-prefeito, constam os cortes nas oficinas culturais nos CEUs e outros equipamentos, a diminuição de 30% dos recursos destinados ao Programa VAI e interferência política ao desclassificar cinco grupos selecionados pelo programa, os atrasos de pagamento e abandono aos agentes comunitários de cultura e a demissão em massa de funcionários da SMC. Além disso, o secretário André Sturm ameaçou “quebrar a cara” de um agente cultural da zona leste – considerado estopim para uma ocupação artística de seu gabinete.
Em 2018, com um corte de R$ 82 milhões em seu orçamento total, a SMC aumentou em R$ 18 milhões os recursos para o Theatro Municipal enquanto outros 10 programas tiveram cortes radicais ou simplesmente deixaram de existir, como o Agente Comunitário de Cultura, o Veia e Ventania e os Pontos de Cultura.
Por outro lado, o programa de metas da Prefeitura de São Paulo elaborado pela gestão Doria e herdado por Bruno Covas para o período entre 2017 e 2020 é focado principalmente na realização de eventos culturais. Entre os objetivos, está o aumento em 15% do número de frequentadores dos equipamentos culturais e das bibliotecas municipais, além da elaboração de um modelo de gestão que viabilize parcerias com organizações sociais, semelhante ao que já acontece no Governo do Estado, em que ONGs assumem o controle de museus, Fábricas de Cultura e outros espaços culturais.
Procurada pelo Periferia em Movimento, a SMC não respondeu às solicitações até a publicação dessa reportagem. A coordenação do Centro Cultural Grajaú, único equipamento cultural público no Extremo Sul de São Paulo, estava de férias durante a apuração.
“Viver na periferia da cidade e ver que em pleno Século 21 a cultura tem seu acesso negado é lamentável e trata-se de um crime conta a Humanidade. Onde não há acesso à cultura, a violência vira um meio”, observa o educador e agente cultural Fernando Ferrari, integrante do Movimento Cultural das Periferias (MCP).
Fruto de uma articulação entre agentes culturais de diferentes pontos da cidade que se fortalece a partir de 2013, o MCP foi responsável por criar, pautar e aprovar a Lei de Fomento à Cultura nas Periferias, que estabelece um programa municipal de incentivo às manifestações culturais nas regiões mais vulneráveis da cidade. Após ser aprovada em 2016, o movimento segue discutindo a descentralização do orçamento municipal, com participação ativa em audiências públicas.
Cria desse processo, Ferrari quer ampliar a discussão sobre o direito à cultura para além dos limites da capital paulista. Por isso, ele é um dos co-candidatos da Bancada Ativista, que reúne nove pessoas oriundas de diferentes movimentos populares para disputar uma única vaga para deputada estadual nas eleições deste ano. “A gente tem discutido como garantir a ampliação das políticas estruturantes para a cultura no Estado”, conta ele. “Vejo como fundamental os coletivos culturais se unirem para discutir os rumos que queremos para nossa categoria, para além dos programas que são políticas de uma gestão”.