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domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114mfn-opts
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/periferiaemmovimento/www/teste/wp-includes/functions.php on line 6114Grajaú, Extremo Sul de São Paulo. Meio milhão de habitantes à margem: da cidade, da represa Billings, da garantia de direitos. Quantas histórias de luta e resistência habitam esse chão? Que histórias são essas? Quem ousa contá-las?
“Somos esses seres marginais, catadores da rua, ouvintes e fazedores de história”, diz Tatiana Monte, diretora que compete uma perspectiva feminista a “Grajaú conta Dandaras, Grajaú conta Zumbis”, espetáculo da Cia Humbalada de Teatro que fica em cartaz até dezembro e que trata de questões raça, classe e gênero. “As periferias e as minorias sempre foram cerceadas de escrever essa história. Sempre fomos meros coadjuvantes”.
O vídeo produzido pelo Periferia em Movimento é só um pequeno recorte dessa peça de 2h30 de duração. Buscamos não dar spoiler. Pra saber do todo, tem que assistir presencialmente.
Afinal, o espetáculo reúne artistas nascidos, criados, atuantes no território para mostrar as histórias que acontecem nessa periferia – distrito mais populoso de São Paulo -, mas que não são casos exclusivos daqui e nem de agora.
Além da Cia Humbalada, saíram às ruas para catar essas histórias outros grupos da região: As Furiosas, Enchendo Laje & Soltando Pipa, Grupo 011, Identidade Oculta, Banda Razallfaya, além das atrizes Carmem Soares, Cristiane Rosa e Fabiana Pimenta e do ator Lucas Bernardo.
E pela rua voltam com a bagagem cheia: falam da chegada dos trabalhadores que migraram de outro estado, do lote de terra e da laje batida no domingo chuvoso; das roupas penduradas em varais de casinhas de tijolos vermelhos e do cheiro do almoço que pula os muros; do futebol de domingo seguido do samba com cerveja na porta do bar; da represa de horizonte infinito; da vontade de ficar aqui para sempre, ao menos que seja pra voltar pra terra natal.
Falam também da caótica Belmira Marin, avenida que a une a todos nos congestionamentos intermináveis saindo ou voltando pra casa, no horário de pico ou meio da tarde, dia útil ou fim de semana; do amontoado no transporte coletivo, das opressões cotidianas que passam quase despercebidas e até do passageiro que entra no busão com a caixa de esfihas do Habibs na mão, atiçando a fome dos demais.
Nem tudo é samba ou pancadão. É pancada. Ferida aberta, sem intenção de cicratizar.
A transexual não consegue seguir e expõe o alto índice de suicídios entre essa população. O menino gay, que sempre quis brincar de boneca quando criança, manda um recado para os vizinhos fundamentalistas de uma igreja recém-aberta ao lado do espaço onde a peça acontece: “Pro armário eu não volto mais”.
O trabalho? É uma droga. E enquanto os homens se digladiam em busca de poder, as mulheres lutam contra as diversas violências e todas as tentativas de controle de si: nos xingamentos e estereótipos, no parto, nos relacionamentos amorosos, na solidão, na morte dos filhos que são tirados delas pelo próprio Estado.
Os corpos ainda são tombados. O genocídio tá escancarado, permeia as cenas, denuncia a naturalização da negação à própria existência. Como em Dandara e Zumbi dos Palmares, líderes do mais conhecido período de resistência ao cativeiro do povo negro no Brasil, esse remonte de histórias indica que por aqui a luta segue. Tem que seguir, pois desistir nunca foi posto como opção.
“Nós não temos mágoa, nós temos memória. A gente não sabe no que tudo isso vai dar, mas temos uma certeza: o Grajaú segue sangrando e não dá mais para ficar assim”, conclui Tatiana.