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A dor nos relatos de crianças e adolescentes que sofreram violência sexual – Periferia em Movimento

A dor nos relatos de crianças e adolescentes que sofreram violência sexual

“Ele gostava de brincar só na cama, e eu gosto de brincar na rua”, conta João, de 3 anos de idade.
“Eu fui tão machucada que tenho medo de ficar perto das pessoas”, diz Luana, 6.
“Eu não pedi para ele tocar em mim”, conta Alice, 10.
Apesar dos nomes serem fictícios, as frases são verdadeiras e constam nos relatos de violência sexual infantil de crianças e adolescentes da periferia de São Paulo.
Em todo Brasil, foram registradas 24.575 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no ano passado, segundo a Fundação Abrinq. Desse total, 19.165 foram de abuso e 5.410 de exploração sexual (quando envolve dinheiro ou troca de favores).
Para mobilizar a sociedade brasileira contra a violação dos direitos sexuais de crianças e adolescentes, 18 de maio foi estabelecido como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Em 1973, neste dia, a menina Araceli de 8 anos foi sequestrada, violentada e assassinada em Vitória (ES). Seu corpo apareceu seis dias depois, carbonizado, e os agressores nunca foram punidos.
No Extremo Sul paulistano, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Interlagos transformou os depoimentos acima em instrumento de denúncia e sensibilização.
Para manter a dicussão ao longo do ano, em maio de 2014 o Cedeca lançou a campanha “Todo dia é dia 18”. Foram lançados 12 cartazes – um por mês – com uma frase e uma ilustração produzida pela artista Evelyn Queiroz, conhecida como Negahamburguer.
“Os depoimentos reais revelam a necessidade de que a voz de crianças e adolescentes seja escutada e levada em consideração pelos adultos, sejam eles familiares, vizinhos, educadores, professores, conselheiros, delegados, juízes”, aponta Roberta Melo, comunicadora do Cedeca Interlagos.
O objetivo da campanha é sensibilizar a população a romper o silêncio que perpetua a violência sexual infanto-juvenil e entrar em contato com o Disque 100 – serviço gratuito e anônimo de denúncia mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
“As frases fazem com que o cartaz não seja uma mera pintura, e sim uma forma de dar voz a quem sofreu a violência sexual e causar impacto para refletirmos sobre o assunto”, explica Tatiana Rodrigues, educadora social.
Além de colar os cartazes nas ruas e quebradas com altos índices de vulnerabilidade social, a campanha envolveu processos socioeducativos com crianças e adolescentes, formações com educadores e profissionais de outras áreas e ações de ativismo digital.
“Depois da campanha, muitas pessoas tiveram coragem de falar que sofreram a violência. Já recebi mensagens de adultos relatando casos de violência na infância; outros entraram em contato para denunciar…”, completa Tatiana.
CONHEÇA OS CARTAZES DA CAMPANHA:


Vulnerabilidade
O Cedeca Interlagos mantém um Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) por meio de um convênio com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e presta serviços de apoio, orientação e atendimento direto às vítimas, famílias e, quando possível, agressores na Capela do Socorro.
Os casos chegam à instituição por encaminhamento do Disque 100, dos conselhos tutelares, pelos órgãos de saúde e educação ou pela Vara da Infância.
“A maioria das vítimas é de crianças e adolescente que vivem em situação de vulnerabilidade social. E os supostos agressores são sempre pessoas muito próximas, como pai, mãe, familiares e vizinhos”, explica Rosilene Matos, assistencial social e coordenadora do Serviço de Proteção à Vítima de Violência (SPVV) do Cedeca.
Os desafios são muitos: como se envolver sem gerar mais violência; como se aproximar das famílias, fortalecê-las e romper o ciclo da violência; como incluir os agressores; etc.
“Não é fácil lidar quase que contidamente com este tipo de violência, pois provoca sentimentos que se misturam, oscilam e são até contraditórios”, aponta Tatiana.
As profissionais indicam que crianças ou adolescentes que se mantêm isolados, com baixa autoestima, amedrontados e agressivos apresentam um comportamento suspeito de quem sofre violência sexual.
“Todos os segmentos que trabalham com crianças e adolescentes deveriam fazer um trabalho de empoderamento e protagonismo desse público visando a autoproteção”, completa Rosilene.
Por isso, no próximo dia 18 de maio (segunda-feira) o Cedeca Interlagos promove uma formação com Sandra Paulino, que acumula 19 anos de atenção à violência sexual.
Durante o dia, haverá exibição de vídeos, apresentação musical dos rappers Moysés (ex-Facção Central) e Luana Hanssen, e a artista Evelyn Queiroz expõe todos os cartazes da campanha “Todo dia é dia 18”. A intervenção será itinerante e interessados em expor as obras podem entrar em contato.
Anotaí!
Exposição “Todo dia é dia 18”
Quando? Segunda-feira, 18 de maio, das 14h às 21h
Onde? No Cedeca Interlagos – Rua Nossa Senhora de Nazaré, 51 – Cidade Dutra – Extremo Sul de São Paulo
Mais informações: (11) 5666-9861 ou aqui.

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