Para reforçar o orçamento do lar, Eva Barbosa Nunes da Silva faz em média 300 salgadinhos por mês. Porém, desde janeiro, a auxiliar de limpeza de 46 anos não pode mais contar com a renda extra. Motivo? Não tem água.
Pior: Eva pretendia usar o dinheiro dos salgados para comprar uma caixa d’água de 1.000 litros, que custa R$ 320. Como não deu tempo, agora armazena água em baldes, garrafas PET e compra galões de 20 litros para beber e fazer comida para a família – ela, o marido, três filhos e uma irmã.
“A gente tá do lado da represa, enxergando esse monte de água, mas não sai nada da torneira”, indigna-se Eva, que mora no Jardim Gaivotas, distrito do Grajaú, Extremo Sul de São Paulo. A casa fica a apenas 100 metros da represa Billings.
Uma cisterna capta água da chuva na casa utilizada pelo projeto Geração Reversa, do coletivo Imargem, no Jardim Gaivotas. (Foto: Thiago Borges / Periferia em Movimento)
A situação contraditória é resultado do histórico da região – uma área de proteção a mananciais que desde a década de 1960 vem sendo ocupada irregularmente, com crescimento populacional acelerado, sem controle do poder público e investimentos em ritmo lento.
Lançado em 1992 pela prefeitura em parceria com os governos estadual e federal, o Programa Mananciais está paralisado desde 2012, segundo o
jornal O Estado de S. Paulo. O programa tem o objetivo de realizar obras em 64 comunidades no entorno da Billings para preservar e despoluir a represa.
Já a Sabesp cobra a coleta de esgoto dos moradores para jogá-lo sem tratamento na represa, como constatou a reportagem do Periferia em Movimento.
Confira aqui.
No Cantinho do Céu, vizinho ao Jardim Gaivotas, moradores já ficaram até cinco dias sem abastecimento.
O artesão emorador local Marcos Uchôa do Nascimento, 24, sofre com o racionamento desde outubro, quando Geraldo Alckmin fazia campanha para reeleição. “Isso porque o governador falava que não ia acontecer [a falta de água]”, lembra.
No Jardim Primavera, bairro do distrito de Cidade Dutra que também fica às margens da represa, tem racionamento todo dia. Na casa de Ketlin Santos, 18, ela ajuda uma prima, a tia e o avô a armazenar água em baldes antes do racionamento. “Ficamos sem água a tarde toda e às vezes só volta de madrugada”, diz ela.
Eva, do Gaivotas, não espera uma solução do poder público. “Só espero em Deus, porque é ele quem pode mandar a chuva. Não tem saída”, conforma-se.
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Thiago Borges