No último sábado (19 de outubro), mais de 300 visitantes passaram pela aldeia indígena guarani Tenondé Porã, em Parelheiros, Extremo Sul de São Paulo.
Nesse dia, os guaranis promoveram uma feira de artesanatos, além de desfile e coral das crianças, entre outras atividades culturais. Porém, o encontro se deu em meio à tensão vivida nos últimos dias, devido à ocupação de um novo território pela comunidade.
Após as recentes mobilizações que resultaram no fechamento da rodovia dos Bandeirantes e a manifestação na avenida Paulista, entre outros atos, há cerca de uma semana os indígenas intensificaram suas lutas e, desde então, ocupam um território próximo chamado Tekoa Eucalipto próximo à Tenondé Porã.
Segundo a Jerá Guarani, dos anos 1970 ao início dos 1980 uma família guarani viveu nesse espaço e algumas crianças nasceram no local.
Sem o reconhecimento da terra, esses indígenas se mudaram de lá, mas de acordo com a liderança há um processo de demarcação do território parado no Ministério da Justiça.
O território atual da Tenondé Porã, onde vivem cerca de mil pessoas, é de 26 hectares – mesmo tamanho da aldeia vizinha Krukutu.
“Como povo muito numeroso numa terra pequena, retomamos essa área, que está abandonada há no mínimo dez anos”, diz a Jerá.
Elias Verá, 52 anos, viveu a época em que as terras de Tekoa Eucalipto ainda eram ocupadas pelos guaranis e lamenta “a terra mudou muito desde o tempo que a gente estava lá, não dá mais para o plantio, mas podemos ter a criação de peixes”. Hoje, a aldeia tem dois poços artesianos onde criam os peixes que alimentam as famílias guaranis.
Assim como a ocupação, a feira de artesanato tem como objetivo fortalecer as tradições culturais dos guaranis.
Apoiado pelo VAI, programa de fomento da Secretaria Municipal de Cultura, ao longo de seis meses o projeto envolveu mais de 200 crianças e jovens da aldeia em oficinas de artesanato, que resultaram em mais de 5 mil peças confeccionadas.
“Começamos com colares para depois fazerem os trabalhos mais difíceis, como cestarias”, explica a professora e oficineira Claudia Gonçalves.
Toda a renda arrecadada no sábado será destinada aos participantes das oficinas.
O artesanato é uma das principais fontes de renda dos moradores da aldeia, ao lado do Bolsa Família e dos cargos públicos nas duas escolas e no posto de saúde.
Porém, mesmo esse trabalho é prejudicado por conta do tamanho do território, que dificulta a colheita de matéria-prima, como sementes.
Por isso, os guaranis se adaptam ao artesanato contemporâneo e utilizam materiais sintéticos como miçangas.
“Ainda assim, mantemos aspectos relacionados à cultura guarani, como a disposição das cores, etc”, completa a Jerá Guarani.
“Os antigos não só vendiam esses materiais, mas também usavam. Nas cestas, colocavam milho, mandioca. O arco e flecha usavam para caçar. E as esculturas de animais eram para trocar por alimento com outras aldeias”, conta Elias. Nesta época, era proibido o acesso de pessoas de fora na aldeia.
O VAI apoia projetos na aldeia pelo quarto ano consecutivo, sempre voltados à manutenção da cultura tradicional, à geração de renda e para dar visibilidade aos guaranis.
“O evento é um sucesso. A aldeia aberta para receber pessoas de vários segmentos, de todas as cores e tribos. É um processo de apresentação e integração de sua cultura”, comenta Gil Marçal, diretor de cidadania cultural da Secretaria Municipal de Cultura.