Mariana Lima Silva, de 17 anos, sempre gostou de poesia. A cada texto que encara, tenta encontrar alguma rima escondida. Não é de hoje que ela também escreve os próprios versos. Porém, nunca teve coragem de declamar em público. “Sou muito tímida”, justifica a jovem estudante, que mora no Valo Velho, zona sul de São Paulo.
Na semana que se passou, Mariana rompeu o muro da vergonha. Ela ficou sabendo pela professora do curso de teatro, do qual participa na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, que haveria um campeonato de poesia no local e resolveu participar.
Na última quinta-feira (29 de agosto), dezenas de crianças e adolescentes se remexiam nas cadeiras durante o ZAP – Zona Autônoma da Palavra, um slam de poesia criado em 2008 pelo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Quando os organizadores gritam “1, 2, 3, ZAP!”, é hora de ficar em silêncio e prestigiar os artistas-competidores.
Os slams acontecem sempre na segunda quinta-feira de cada mês, na rua Doutor Augusto de Miranda, 789, além de edições especiais em outros espaços. O campeonato foi levado ao Capão Redondo pelo 3º Encontro Estéticas das Periferias.
“O slam existe no mundo inteiro, mas nos sómos o primeiro do Brasil”, diz Roberta Estrela D’Alva, uma das organizadoras do ZAP. “A ideia é dar uma dinâmica ao evento de poesia, para mais gente participar e ter a interação do público”, conta ela.
“O Núcleo Bartolomeu de Teatro pesquisa a interação do teatro com o hip hop, pesquisamos a palavra. Então, o ZAP é um espaço aberto para a palavra acontecer de outras maneiras”, explica Luaa Gabanini, integrante do grupo.
Num campeonato de poesias, os interessados declamam seus versos e são avaliados por um juri de cinco pessoas, que pode dar notas de zero a dez. Nessa edição, teve de piadas a música do Emicida, até poesias próprias ou de escritores renomados, como Carlos Drummond de Andrade.
Os três melhores da primeira rodada são classificados para a segunda fase. Entre eles, estão Eugenio Lima (que também integra a equipe do ZAP), o experiente Dugueto Shabazz e… Mariana.
“Sempre acontece de alguém muito tímido, ou algo do tipo, aparecer e surpreender todo mundo. Isso sempre acontece na ZAP e toda vez eu me surpreendo”, diz Eugenio.
Ovacionada pelo público e com nota máxima concedida pelo júri, Mariana ficou em primeiro lugar nesta edição do ZAP. Venceu o campeonato, mas não pretende mais parar:
“Gosto muito de cantar, interpretar, de ler… Estou escrevendo um livro também. Se fosse pra escolher o que quero fazer pelo resto da vida, eu escolheria estudar. Mas vou ficar esperando o que o destino me reserva”.